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Dicto simpliciter ou falácia do acidente

- 3 min leitura

O dicto simpliciter ou falácia do acidente ocorre quando uma regra geral, que é verdadeira na maioria das situações, é aplicada a um caso específico onde não se encaixa. Mas o que isso significa na prática?

Vamos analisar alguns exemplos para entender melhor. Pense na regra de ouro: “trate os outros como gostaria de ser tratado.” Em geral, isso parece uma boa ideia. No entanto, essa regra pode gerar problemas se for aplicada de forma rígida e sem considerar as circunstâncias.

Para perceber isso, imagine que está procurando um presente para seu amigo de infância e, como não sabe o que comprar, lembra da regra de ouro e decide presenteá-lo com uma camiseta do Inter, time que você adora. Detalhe: seu amigo é um torcedor fanático do Grêmio.

Seu aqui erro foi pensar que “trate os outros como gostaria de ser tratado” é uma regra que funciona em qualquer situação. Embora em geral seja uma boa ideia tratar as pessoas assim, há exceções. Sempre que cometemos erros semelhantes, estamos usando a falácia do acidente.

Vamos analisar mais exemplos para pegar bem a ideia. Suponha que você estuda em uma escola que valoriza o trabalho em grupo e na qual normalmente as atividades, projetos, estudos são realizados coletivamente. A escola inclusive afirma em seus documentos que o trabalho em grupo está entre seus princípios pedagógicos. 

Sabendo disso, você decide argumentar em uma aula que a prova que o professor está aplicando deveria ser realizada em grupo, já que esse é um princípio da escola.

Consegue perceber a semelhança deste segundo exemplo com o primeiro? Nos dois casos, uma regra que geralmente se aplica é levada ao pé da letra, ignorando que há exceções.

Estrutura do dicto simpliciter

Percebeu que as falácias que analisamos têm uma certa estrutura comum? Podemos identificar essa estrutura da seguinte forma:

  1. A regra X normalmente funciona
  2. Um caso particular Y é um exemplo de X
  3. Então X se aplica à Y. Porém isso é um erro já que Y é um caso que foge à regra

Como evitar a falácia do acidente

Agora que entendemos o que é o dicto simpliciter, ou falácia do acidente, como podemos evitá-la no nosso dia a dia? Uma maneira eficaz é questionar a generalização que está sendo aplicada em cada situação.

Diante de uma regra geral, a primeira coisa que você deve fazer é se perguntar: essa regra se aplica em todos os casos? Será que existe algum cenário onde seguí-la poderia trazer mais malefícios do que benefícios ou levar a conclusões incorretas?

Por exemplo, consideremos a regra de que “ninguém deve furar a fila.” Em geral, essa é uma boa prática para manter a ordem e a justiça. Mas e se alguém estivesse com uma emergência médica e precisasse de atendimento imediato? Nesse caso, faria sentido abrir uma exceção. Aqui, a falácia do acidente poderia ocorrer se insistíssemos que a regra de não furar fila é inquebrável, mesmo em situações de emergência.

Então, sempre que você identificar uma regra geral, imagine possíveis exceções. Se você encontrar uma situação onde a regra não se aplica bem, é hora de reconsiderar antes de usá-la como uma verdade absoluta. Ao fazer isso, evitará cair na falácia do acidente.

Referências

ARP, R.; BARBONE, S.; BRUCE, M. Bad arguments 100 of the most important fallacies in Western philosophy. Nova Jersey: Wiley Blackwell, 2019.

WALTON, D. Lógica Informal: manual de argumentação crítica. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.